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domingo, 20 de março de 2011

Portugal: do autoritarismo à democracia

Tal como aconteceu com o mundo inteiro, Portugal, ficou abalado com o desenrolar da Segunda Guerra, factor que trouxe todo um conjunto de modificações para o país. Contudo, tendo sido um país neutro neste conflito, Portugal conseguiu manter o seu regime autoritário intocável durante um certo período, apesar de alguns sobressaltos que vieram a destabilizar parcialmente a ordem no país.
Como tem sido notório, após o final da guerra, surge no território europeu um vasto conjunto de países que optaram pelo regime democrático como modelo político, factor que de certo modo pressionava e jogava com a política portuguesa. E de que modo tal facto acontecia? Foi precisamente após o final da guerra que a politica portuguesa teve de enfrentar algumas dificuldades que surgiam do estrato superior, ou seja, com a afirmação de um grande número de modelos democráticos, por toda a Europa, Portugal era o único país que ainda se regia por um regime totalmente autoritário, sentindo-se este altamente pressionado politicamente. Desta forma, o Estado Novo via-se cada vez mais enfraquecido, mesmo após uma tentativa de abertura "democrática" para o exterior, que na realidade não passou de uma grande fraude.
Portanto, mesmo após todas as transformações notórias a nível mundial, a economia portuguesa continuava a apostar na agricultura como principal meio de produção, o que fazia com que o país continuasse a viver num clima de pobreza e ao mesmo tempo continuando a ser um país agrário. Mesmo após uma parcial aposta na indústria e nas obras públicas, o país não conseguiu atingir a média europeia, continuando deste modo fracamente desenvolvido o que permitia cada vez mais a evidenciação da oposição ao regime salazarista. Foi assim, que Portugal viveu num clima de tensão devido à tal dita abertura democrática para o exterior, que na realidade apenas se limitou a designar-se de tal maneira, visto que a dita democracia apenas consistiu na permissão pelo Estado Novo de eleições democráticas, acabando estas também por ser uma estratégia salazarista contra os seus opositores. Portanto, após a revisão constitucional de 1945, surgem em Portugal um conjunto de forças de oposição ao regime, forças essas de carácter democrático que ficaram conhecidas como MUD( Movimento de Unidade Democrática), conseguindo esta cada vez mais aderentes. Contudo após um conjunto de exigência feitas ao governo português, a MUD acabou por desistir mesmo antes das eleições, tendo em conta que o governo não concordou com qualquer das exigências apresentadas pelo Movimento Democrático. Mas por outro lado, o mesmo governo decidiu pôr em prática a sua estratégia cirurgica, que se baseou na interrogação de um grande conjunto de aderentes à própria MUD e mesmo no apresionamento ou despedimento dos postos de trabalho de muitos indivíduos que igualmente pertenciam à lista de apoiantes do Movimento Democrático.
Mas mesmo quando o regime salazarista pensava que tinha tudo controlado, um novo factor atravessa a "prosperidade" da ordem no país. E esse factor denomina-se NATO, organização de origem capitalista criada com finalidades defensivas devido ao surgimento de um conflito ideológico mútuo( conhecido como Guerra Fria), de que Portugal se torna membro no ano de 1949. A adesão de Portugal à NATO, permite com que as forças externas possam exercer uma maior pressão sobre o regime salazarista, mas por outro lado permite a sua existência pois este estava igualmente numa constante luta contra a ideologia comunista, ameaça vinda do bloco soviético. Baseando-se então na entrada do país na NATO, as forças oposicionistas voltam a ter oportunidade de lançarem as suas teias democráticas pelo povo. Contudo, foi só em 1958, com a candidatura do general Humberto Delgado, que se verificou uma forte mobilização e adesão à sua campanha eleitoral. Mas obviamente que o governo não podia permitir tais aconteciementos, acabando por exilar o general Delgado, que mesmo fora do país continuava a sua luta contra o regime, e denominar Américo Tomás presidente da República com aproximadamente 75% dos votos( a maioria deles falsificados).
Mas apesar desta núvem de instabilidade e oposição política que sobrevoava Portugal, outros acontecimentos se desenrolavam, desta vez a nível social, relacionando-se principalmente com a forte vaga de emigração que se verificou durante várias décadas e com a urbanização que igualmente via-se cada vez mais fortalecida. Portanto, em relação à emigração, verificou-se um grande número de movimentos para o exterior do país, grande parte para a França, causando uma instabilidade e um enfraquecimento demográfico em Portugal, quer nas cidades, quer nos espaços rurais, sendo os principais factores da emigração portuguesa, o grande atraso industrial do país que se relacionava por sua vez com a atracção pelos altos salários do estrangeiro e a segunda razão foi o início da guerra colonial que assustava o povo português que ao sair do país( principalmente os homens) evitavam o seu recrutamento para os campos de guerra em África. Mas por outro lado, a emigração portuguesa era vista como um factor de prosperidade para a economia portuguesa, visto que grande parte de lucros estrangeiros faziam-se cicular no território português, pois muitos familiares imigrantes mandavam uma parte dos seus vencimentos para os familiares cá deixados.
Por outro lado, com o início da guerra colonial, o ensino torna-se cada vez mais exigente, de modo que quem não correspondesse às expectativas do governo era automaticamente recrutado para a guerra.
Um outro factor social, que se observou principalmente nas décadas de 50 e 60, foi a intensa urbanização, que fez com que as grandes cidades absorvessem um grande número de indivíduos com habitação nos meios rurais. Foram as grandes cidades que acolheram todos os que nelas encontravam um futuro com mais sucesso e condições, pois era nestas que a indústria( mesmo pouco evoluída) se desenvolvia aos poucos e poucos, podendo ofercer um maior número de empregos, mesmo para indivíduos sem qualquer formação académica.
É neste clima, de sucessivas oposições ao regime por parte dos movimentos democráticos, que Portugal continua a ser dos únicos países onde o regime autoritário, mesmo enfrentando um conjunto de restrições que dificultam o seu funcionamento, enfraquecendo constantemente o governo e o regime do Estado Novo, continua a manter-se na frente do país não permitindo a sua evolução a nível industrial nem político. É na mesma altura que se verifica uma forte vaga de emigração, que mesmo tendo sido vista negativamente ao início, acabou por favorecer economicamente o país que permitiu a circulação de moeda vinda do exterior, mas mesmo assim não resolvendo os problemas que davam fruto às oposições e desconfianças surgidas nas respectivas épocas. Sucessivamente, dá-se o início da guerra colonial, factor esse, que nada favoreceu o regime autoritário que caiu em 1974 tendo como uma das razões a provocação de tal conflito.

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