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sábado, 27 de novembro de 2010

A resistência das democracias liberais

A crise de 1929 que teve origem nos EUA, teve impacto não só no território americano mas também foi notório principalmente na Europa, visto que alguns países do continente europeu dependiam economicamente dos EUA. Desta forma, com o fracasso do capitalismo devido ao processo de superprodução, a depressão dos anos 30 abrangeu um grande número de países e revelou as fragilidades deste sistema liberal.
Segundo o economista britânico Keynes, o Estado devia intervir na economia pela sua "política fiscal". A este processo deu-se o nome de intervencionismo que consistia no papel activo do Estado em todas as actividades económicas de forma a evitar os danos provocados pelo liberalismo económico.
A solução que foi tomada pelo novo presidente dos EUA, Franklin  Roosevelt, ficou conhecida sob o nome de New Deal. Esta talvez foi a melhor solução perante as dificuldades económicas do estado americano visto que se baseava muito na agricultura e nos recursos naturais existentes nos EUA. O New Deal consistiu num conjunto de reformas e iniciativas económicas e sociais. Foram tomadas algumas medidas financeiras bastante rigorosas que incluíram o encerramento de instituições bancárias, e estabelecimento de sanções contra os especuladores e a requisição de ouro. Também o dólar não escapou às alterações visto que sofreu uma desvalorização em Abril de 1933 o que fez com que as dívidas externas baixassem e fez subir os preços, fazendo com que houvesse uma inflação controlada que aumentou os lucros das empresas. Insistiu-se num investimento nas obras públicas, tal como nas estradas, nas vias-férreas, aeroportos, habitações e escolas, de forma a criar postos de emprego para descer a taxa de desemprego.( A taxa de desemprego consistia em 1932 em 25% e com a aplicação do New Deal esta desceu 10%).
Por outro lado, o presidente americano apostou e estabeleceu a protecção à agricultura através de empréstimos aos agricultores e de indemnizações que os compensassem  pela redução das áreas cultivadas. Da mesma forma foi estabelecida a protecção à indústria e ao trabalho industrial com a fixação de preços mínimos e máximo controlando por um lado os preços e por outro deixando com que houvesse pequenas concorrências não fugindo muito às características do capitalismo.
Já entre 1935 e 1938, época considerada como a segunda fase do New Deal, esta medida preocupou-se mais com o meio social. Deste modo, reconheceu-se a liberdade sindical e o direito à greve, regularizou-se a reforma por velhice e invalidez, instituiu-se o fundo de desemprego e o auxílio aos pobres, foi estabelecido o salário mínimo e foi reduzido o horário semanal de trabalho( 44h semanais). Todas estas reformas fizeram com que o Governo Federal americano fosse visto como um Estado-Providência, devido aos ideais que seguiu. Mesmo após este conjunto de reformas que não seguiu por completo o keynesianismo, o desemprego  continuo a manifestar-se ( 15%) principalmente entre 1936 e 1939. Roosevelt recorreu a uma planificação parcial da economia, através do estabelecimento dos preços mínimos e máximos e de quotas de produção e tornou o Estado "corporativista" de forma a unir os empresários com os operários de maneira a eliminar a forte concorrência, factor que já era observado na Itália e que destinava-se na abolição das diferenças entre as classes sociais.
Tal como já referi anteriormente, a crise também abalou alguns estados europeus. França foi um dos países que não sentiu esta situação tão profundamente. Contudo, a crise francesa aumentava devido à insistência dos governos em políticas deflacionistas, fazendo com que as classes médias, os agricultores e os operários saíssem prejudicados com as medidas tomadas pelo Estado. Os partidos da esquerda viram-se confrontados com as críticas da parte de grandes ligas nacionalistas que defendiam a implantação de um sistema autoritário como solução para a implantação da ordem social e regularização da situação económica em que o país se encontrava. Desta forma, a democracia francesa via-se ameaçada pelas contestações da direita. As constantes manifestações da extrema-direita fizeram com que em 1934 o Governo radical fosse demitido e fizeram com que se iniciasse uma mobilização dos cidadãos que se convergiu numa coligação de esquerda conhecida como Frente Popular. Esta era constituída por partidários comunistas, socialistas e radicais. Os governos da Frente Popular forneceram um notável impulso à legislação social, na sequência de um movimento grevista caracterizado pelas ocupações das fábricas que afectou a indústria no geral( automóvel, aeronáutica, grandes armazéns, bancos e escritórios). Com a assinatura do "Acordos de Matignon", tal como nos EUA  foram tomadas um conjunto de reformas que consistiram nos contractos de trabalho entre os empregadores e assalariados em que se aceitava a liberdade sindical e se previam aumentos salariais. Também as horas semanais de trabalho sofreram alterações visto que foram reduzidas apenas para 40h semanais. Em Espanha também triunfou uma Frente Popular, apoiada não apenas nos comunistas e socialistas  mas também nos anarquistas e sindicatos operários. Esta tomou medidas semelhantes àquelas que foram tomadas em França, contudo o domínio desta Frente Popular não teve grande êxito por muito tempo visto que viu-se confrontada pelas forças monárquicas, conservadoras e falangistas que se denominavam como Frente Nacional. Este confronto deu origem a vários conflitos entre a República democrática e a tal denominada Frente Nacional, fazendo com que Espanha passasse um períodos de violentas guerras civis.
Enquanto que nos EUA  deu-se a grande crise económica de 1929-30 que abalou violentamente toda a economia americana e europeia( que dependia da americana), na Europa os movimentos de extrema direita iam fazendo frente às democracias liberais dando origem a conflitos políticos e sociais. Na Itália, Alemanha e mesmo em Portugal e Espanha a implantação do fascismo foi inevitável visto que era a única solução vista para a resolução dos problemas de origem económica e política que tanto abalavam estes países e fazia com que a instabilidade tanto política como social aumentasse. Nalguns casos, os líderes fascistas foram eleitos democraticamente( criando um pequeno paradoxo com os princípios de extrema-direita) e noutros estes surgiram devido a golpes contra os sistemas democráticos predominantes. Tendo em consideração que os sistemas governativos autoritários não seguiam princípios democráticos e eram bastante rigorosos no estabelecimento da ordem social pois davam importância à colectividade social e à integração do indivíduo neste grupo e não dava importância ao indivíduo enquanto entidade particular, não podemos ignorar o facto de que a situação económica e o desenvolvimento industrial dos países em questão melhorou e aumentou respectivamente baseadas na agricultura, nas obras públicas e na indústria pesada.

sábado, 13 de novembro de 2010

As opções totalitárias

No início do século XX, o nacionalismo crescia aos poucos e poucos, tendo sido uma das causas da Primeira Guerra Mundial. Também o demoliberalismo tentava instalar-se no território europeu, pretendendo a liberdade e a igualdade entre os indivíduos, visto que o Estado pretendia ser neutro e baseava-se na divisão dos poderes. A própria vitória dos Aliados, pretendia o progresso da democracia na Europa. Contudo, com o passar dos anos '20, o demoliberalismo via-se confrontado por outros movimentos ideológicos e políticos, que viam o Estado como órgão omnipotente e totalitário. Desta forma nascem os sistemas totalitaristas tal como na Rússia, na Alemanha e em Itália. O totalitarismo caracterizava-se como o sistema político que defendia que o poder devia estar nas mãos de uma só pessoa ou partido único, cabendo ao Estado o controlo da vida social e individual.
Recorreu-se a estes sistemas totalitários, visto que viam-se nestes mesmos a solução para as crises económicas provocadas pela democracia liberal. Foi desta forma que surgiu o fascismo italiano e o nazismo alemão.
O sistema totalitário fascista e nazista eram bastante parecidos no que toca à oposição ao liberalismo, à democracia parlamentar e ao socialismo. Ambos defendiam que acima do indivíduo havia um Estado, existia a colectividade e a grandeza da Nação. Tal como já referi, ambos estes sistemas eram totalmente contra o parlamentarismo e desvalorizavam a democracia partidária. Também o socialismo via-se contrariado pelos totalitarismos europeus, pois este defendia a afirmação do indivíduo e não da Nação e da colectividade. O socialismo defendia que o indivíduo devia lutar pela a afirmação da sua classe social. Já o totalitarismo via o enfraquecimento do Estado ao haver uma divisão entre classes. Desta forma concebeu-se um modelo de organização socioeconómica, o corporativismo( caracteriza-se pela aceitação da propriedade privada, contudo estabelece como necessária a  intervenção do Estado), destinado a promover a colaboração entre as classes. Com a instalação do corporativismo, as greves e os lock-out passam a ser proibidos fazendo com que não haja paralisações de trabalho que podiam ter prejuízos na economia.
Tal como o nome indica, o totalitarismo exerceu-se a todos os níveis, político, económico, social e até cultural. A oposição política foi aniquilada por completo, as actividades económicas sofreram uma rigorosa regulamentação, a sociedade viu-se controlada por completo pelo Estado visto que foi proibida a liberdade de expressão e de pensamento.
Os chefes de Estados foram elevados ao nível de heróis, até de deuses, pois eram eles o exemplo a seguir.
Visto que os partidos foram proibidos, existindo apenas um partido as massas basicamente só podiam votar num só partido, fazendo com que os chefes pudessem afirmar que foram escolhidos por sufrágio universal sem recorrer a qualquer solução forçada. Tal como na Itália, também na Alemanha os jovens eram desde cedo educados de maneira a seguirem os ideais predominantes no Estado, desta forma nascem as juventudes Fascistas e Nazis.
Ambas estas potencialidades totalitárias demonstravam um forte racismo e anti-semitismo. Na Alemanha isso foi mais notório, com a exclusão dos judeus não sendo considerados como indivíduos da raça pura, ou seja, da raça ariana, que se caracterizava por vários factores.
Uma boa forma de chamar a atenção e para conseguir a adesão de um maior número possível das massas, foi a propaganda, sendo esta um conjunto de meios destinados a influenciar a opinião pública. A violência e o desrespeito dos direitos humanos também se evidenciou com a criação das polícias políticas que eram obrigadas a controlar toda a sociedade e não denunciar/penalizar qualquer indivíduo que estivesse contra o sistema presente no Estado.
No que toca a questão económica, na Itália e na Alemanha foi instalada uma política intervencionista e nacionalista que ficou conhecida como a autarcia. Esta consistia na auto-suficiência económica apelando-se ao povo trabalhador com o objectivo de fazer desaparecer o desemprego.
Na Itália, o enquadramento das actividades em corporações facilitou-lhe uma certa planificação económica. Desta forma, realizaram-se grandes batalhas de produção. Por exemplo a batalha de trigo permitiu o aumento da produção de cereais e fez diminuir as importações que eram as responsáveis pelo défice comercial. O Estado italiano interveio também na industria tendo assumido o controlo dos volumes das importações e das exportações. Ao ter conquistado a Etiópia, esta passou a explorar intensivamente fontes de energia e de minérios, tentando equilibrar da melhor forma possível a economia do Estado e tentando fazer com que este seja auto-suficiente, que lhe permitia a sua independência económica.
Ao contrário de Mussolini, que apostou mais na agricultura, Hitler investiu mais nos transportes e na indústria pesada. Foram então construídas auto-estradas, pontes e linhas férreas. Destas maneira o desemprego também viu-se abolido aos poucos. As realizações económicas do nazismo renderam-lhe a adesão das massas e mesmo a admiração de países ocidentais.
Podemos afirmar que ambos estes países totalitários, basearam-se nalguns princípios mercantilistas( maior exportação e menor importação) para conseguirem aderir à auto-suficiência.
Já do outro lado, com a morte de Lenine, forte defensor do marxismo e chefe do Partido Comunista, em 1924, sobe ao poder Estaline, que na chefia de Lenine exercia o cargo de secretário-geral do Partido Comunista. Mesmo sendo um suposto defensor do socialismo, Estaline recorreu ao totalitarismo querendo fazer da Rússia a maior potência mundial. Visto que ao aplicar a NEP Lenine abdicou de algumas empresas e permitiu a sua privatização e também abdicou de algumas terras permitindo aos camponeses vender os seus produtos livremente, contudo tendo que entregar uma parte ao Estado, recorrendo parcialmente ao capitalismo, Estaline voltou a nacionalizar todas as terras, por vezes utilizando a força. Contudo, mesmo forçando esta nacionalização das terras, a Rússia consegue aumentar a sua produção.
A economia russa era planificada de 5 em 5 anos, ao contrário da economia capitalista que era liberal e vivia da concorrência. O Estado russo, investiu bastante na indústria pesada tal como o Estado alemão.
Foram equivalentemente importados profissionais estrangeiros para se conseguir a formação de engenheiros e especialistas que viriam a participar no desenvolvimento da indústria.
Vemos como estes 3 estados totalitários foram muito parecidos nos meios utilizados para o desenvolvimento industrial e agrícola que contribuíram para a sua afirmação auto-suficiente, contudo enquanto que na Itália e na Alemanha predominava o capitalismo na Rússia predominava uma economia planeada que consistia na produção de produtos apenas em quantidades necessárias para a sobrevivência do povo.

A grande depressão e o seu impacto social

Sabemos que após o primeiro maior conflito mundial, a América tornou-se a principal potência mundial, visto que a Europa encontrando-se numa situação devastadora perdeu aos poucos a sua hegemonia. Desta maneira, o capitalismo instalou-se basicamente em todo o mundo. A Europa dependia economicamente dos EUA, pois eram estes quem lhe fornecia apoios financeiros para esta conseguir recuperar após a guerra.
Dado que o continente europeu tinha o apoio dos EUA, este aos poucos conseguia desenvolver e recuperar a sua situação económica. Desta maneira, a Europa passa a importar menos produtos vindos da América, mas sem que esta se apercebesse e continuasse a aumentar a produção. Foi desta forma que chegando a 1929 os EUA confrontam-se com uma grave crise de superprodução fazendo com que o dólar perde-se o seu valor por completo e com que todas as acções fossem postas à venda pelos empresários a preços podemos dizer até ridículos, visto que eram bastante baixos em relação ao valor real destas mesmas.
Vivia-se então num clima de Grande Depressão. Já em 1920-21 pode-se dizer que os EUA, tinham tido um "aviso" daquilo que viria a acontecer em 1929.
Um factor que também teve um papel importante no derrube da economia americana, foi a facilitação do crédito, visto que este permitia com que o poder de compra se mantivesse ou aumentasse.
Segundo os estudos feitos, aproximadamente 10 mil bancos fecharam as suas portas de 1929 a 1933. Visto que a economia americana baseava-se essencialmente nos bancos e dados os encerramentos destes, e economia dos EUA viu-se arruinada.
Obviamente que seguiram-se graves consequências. Um grande número de bancos faliram, o desemprego instalou-se, a produção industrial contraiu-se, os preços baixaram drasticamente, as fábricas fecharam, a agricultura foi destruída e os animais foram abatidos. Instalou-se a miséria total por todo o território americano. Os salários sofreram, eles também, um corte drástico. Contudo a grande depressão não atingiu apenas os EUA, tendo em conta que um grande número de países dependia da economia destes. A grande deflação ( caracterizada por uma diminuição dos preços, do investimento e da procura, acompanhada de uma progressão do desemprego) expandiu-se por todo o mundo e todos os países viram-se aflitos ao devolverem as dívidas que tinham para com os americanos visto que estes aumentaram os impostos.
Esta situação ainda se expandiu por alguns anos, fazendo com que a miséria permanecesse durante algum tempo.
Toda este acontecimento ficou conhecido como o Crash da Wall Street, pois foi lá que a catástrofe económica teve o seu início. Este crash levou todo o mundo a uma grande depressão caracterizada pelo desemprego e pelas falências dos bancos e empresas. Desta forma o capitalismo liberal teve o seu primeiro falhanço fazendo com que tivessem sido tomadas e procuradas novas medidas para a regularização da economia americana e mundial.